quinta-feira, 18 de junho de 2015

Súplica Desgostosa

E este é meu pânico, meu pavor, o que me faz suplicar de joelhos. 
Há Hermeto Pascoal para vibrar, Chick Corea para Seduzir, Joshua Redman para desvanear, Egberto Gismont para gozar e Esperanza para quem sabe um dia todos terem conhecimento e consciência.
Eu tenho medo. Tenho medo que a música que desfruto e considero boa e decente vá embora; se contamine de vez, continue se enforcando nessa estreita massa de seres humanos rústicos, e suma. 
Mesmo matraqueado, não sei. E quem nunca soube, expele e exorbita “não seis”. Três não seis dá 666: é, meu caro! É diabólico pensar no não conhecer. 
Dizem ser preconceito meu contra o pop, o rock, o funk... pode até ser, mas está mais para indignação. 
- Onde está Elis? 
- Quem é essa?
- Aquela que tocou Águas de Março com o Tom.
- Tom? O Tom do Jerry? 
- O Tom que fez parceria com o Chico Buarque.
- Sei não. 
Que deboche. Um deboche esta situação. Mas não aponto culpados. Não sou juiz, e nem sei quem seriam. Mas suplico. E suplico de joelhos. Suplico para os leigos no quesito música. 
Os mais famosos da mpb poucos conhecem realmente, e estes ainda tem o atrevimento de julga – los como ultrapassados, entediantes, sem ao menos ter um conhecimento prévio (pois a maioria só conhece mesmo pelos nomes e não pararam nem sequer para ouvi-los). 
Tenho um exemplo indiscutível sobre isso tudo: uma vez me perguntaram sobre minha vida como musicista, como comecei, e, claro, perguntaram: “o que você gosta de ouvir?” E um dos exemplos que citei foi o de Chico Buarque. A pessoa torceu o nariz e me disse : “Mas Chico Buarque é Chato! Você gosta mesmo de ouvir isso? Para se divertir mesmo?”
E eu respondi: “Claro! É o que eu gosto e faço!”. 
A questão que discuto é que poucas pessoas tem oportunidade de ouvir o que está acontecendo no mundo dos músicos, no mundo quem sabe mais “acadêmico”, se é que posso dizer isso, no mundo dos estudantes de música, neste universo praticamente paralelo, porque realmente ninguém está ciente de sua existência. 
Cada vez menos espaço, cada vez mais pessoas se rendendo à massa. Conheço pessoas que lutavam pela mesma causa que eu, mas que se deixaram levar pela massa também, para “agradar ao público”. Mas tudo isso é questão das pessoas conhecerem e terem a oportunidade de entrar em contato com o que existe no mundo. Não há certo, nem errado. Apenas há um desfalque: falta que as pessoas conheçam mais. 
E, o interessante, é que de ultrapassado nada disso tem! A música brasileira e o jazz continuam por ai, e cada vez mais modernos. Moderno não é sinônimo de eletrônico. E o mundo está perdendo esta oportunidade cultural, a qual está restrita em poucos bares, estúdios, conservatórios e casas de amigos. 
E este é meu pânico, meu pavor, o que me faz suplicar de joelhos. 
Há Hermeto Pascoal para vibrar, Chick Corea para Seduzir, Joshua Redman para desvanear, Egberto Gismont para gozar e Esperanza para quem sabe um dia todos terem conhecimento e consciência.

Matar da memória

Algumas pessoas, mesmo vivas, vivinhas em folha, só me restam na memória. 
Alguns momentos, por mais próximos, parecem tão distantes, tão saudosistas.
Algumas pessoas e momentos eu amei, e sempre amarei. Porque o que vale é só o amor: a paixão engana.
A paixão é como um pavio que queima, ou uma água fervendo que vira vapor. Ela engana mesmo, parece mais gostosa, mais quente, sedutora.
Mas o amor é como câncer: é, não achei outra palavra. Horrível, não? Mas ele aumenta, são células que vão se reproduzindo desesperadamente, aumentando, aumentando... O amor morre com você. Se for amor, será cravado em suas entranhas. E aí, ele te possui.
Já a paixão marca sua memória, mexe com seu subconsciente, faz você sonhar, e abala- te em alucinações. A paixão é o vício, que vai destruindo, ela vem, faz a festa, vai embora e o que resta é seu descompor dentre os fungos e vermes que te consomem.
Mas o amor fica. Mesmo que haja dor, ele não vai. Te acompanha até os últimos segundos. Ele parece mais ameno, sem adrenalina, não? Cadê a paixão? Volte.... volte? Não! Nem pensar! Ela destrói! E para curar-se dela é preciso arrancar de ti com as próprias mãos os vermes que te comem, levantar-se e lavar-se. E então, fazer um curativo e esquecê-la. Esquecer. Esquecer é matar da memória e, mesmo que vivinhas em folhas as pessoas e próximos os momentos, precisamos mata-los da memória para nos curarmos.
Então, se nada é perfeito, por que escolher o que te destrói ainda mais?
Deixemos restar o amor, ele não vai nos consumir...apenas possuir.

Dubiedade


Dois poemas, dois pensamentos, dois anos diferentes...
Para: Glauber Todesco 
Ano passado: desacreditada do amor
Hoje: amando e amada







Poema 1 - 2014
Sempre nesse mundo cor de rosa, alienados
Prontos para um passeio de sábado a tarde, penteados
Trocam colares e bombons, comprados
E nessas ilusões, adornados
Nesse brio e nesse jogo, desesperados
Na falta de tempo, apertados
No sufoco, no açúcar, demasiados
Mas brigam, irritados
Namorados
E eu, vejo essas rosas, esses amores desertos, passo pela praça esquecida, chego em casa, olho no espelho e enamoro-me de mim mesma.
Poema 2 - 2015
Às vezes cor de rosa, às vezes outras cores, alienados talvez, apaixonados melhor não: amados.
Prontos para ver um filme de baixo do edredom, despenteados
Trocam amassos e beijos, conquistados
E na realidade, aliviados
No passar do tempo, consolidados
No espaço, na doçura, equilibrados
Mas brigam, sim... porém amparados
Namorados
E eu, vejo estes fatos, este meu amor, passo pela mesma praça esquecida, mas que eu tenho em minha memória, chego em casa, olho no espelho, e já não estou mais sozinha.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

No meio do caminho


No meio do caminho tinha uma flor
Tinha uma flor no meio do caminho
Tinha uma flor
No meio do caminho tinha uma flor.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão reluzentes

Nunca me esquecerei que relembrei a felicidade
No encher de meu peito tão entusiasmado

Nunca me esquecerei que pulei as pedras
No andar de meus pés tão apressados

Nunca me esquecerei que meus olhos se abriram,
Nos impulsos de minha mente tão frenética

Nunca me esquecerei que vi a outra face,
Na brisa de minha alma tão intensa

Nunca me esquecerei do que vivi,
No pulsar de meu coração tão amoroso

Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma flor
Tinha uma flor no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma flor

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

De repente

Estava tão confortável, numa maciez aconchegante e acolhedora.
Estava aquecida. 
E estava escuro. 
Era bom, muito bom. 
E eu era azul, como um ovo de Inhambu.
Azul pela paz, pela castidade e essência.
Mas de repente ficou vermelho: a chegada para o mundo - a saída.
Uma turbulência no meio de um longo, uniforme e agradável voo.
Senti frio. Havia uma luz tormenta ofuscante. Ai! Um tapa na bunda. O mundo de ponta cabeça.
De repente, eu nasci!

Mas o hábito e adaptação são engenhosidades do ser humano.
Já não era tão azul. Nem tão vermelho. Era o arcobaleno.
Nem tão Dionísio, nem tão Apólo.
Um espalhafato inconsciente.
De repente, aquela velhinha sábia que parecia eterna, se foi.
Um vazio já surgiu.

Um caminho sem atalhos, um rio com vitórias régias e jacarés também.
E de floresta foi virando pântano e de cores, sépia.
Aflitivo.
Quando me dei conta, já amava, já amargurava, já percebia, já sentia.
E sentia muito: pelos infelizes, pela ignorância, pela disputa, pelas pequenas e pelas grandes guerras, pelo egoísmo, pala rejeição, pelos solitários, pela dúvida.
Aí, quando me dei conta, esperneava pelo falso desejo de liberdade.
Chorava pelos galãs, achava pelo nos ovos não mais azuis daquele Inhambu.
De repente, estava do outro lado do mundo.
De repente, minha adolescência passou e minha rebeldia se despediu e pegou carona.
De repente, se tornou muito mais dionisíaco. E os prazeres da vida me tinham. E eu já fazia o que tanto queria.
As cordas, as bonecas, os pratinhos de plástico e as bolas quicantes eram indiferentes. Daí, veio a reflexão.
E será que de repente chegam os cabelos brancos?
E se de repente já existam herdeiros meus?
E se de repente minha luz apagar e eu voltar para o escuro?

Tesão

Tesão é te querer.
Tesão é ouvir uma voz cantada com vontade no meio dos metais e do baixo
Tesão é sentir os sons graves vibrarem em mim
Tesão é um bumbo firme, um baixo jeitoso e esperto e uma guitarra jazzística arisca
Tesão é andar contra a rotação da Terra, fazer da noite uma festa e da festa prazer
Tesão é recusar o pó e ser chapado de sexo
Tesão é lembrar das maiores loucuras que um dia te deixaram de consciência pesada
Tesão é poder sair por aí conhecendo pessoas desconhecidas
Tesão é ficar dentro de mim mesma, no meu universo aberto, mas que ninguém ainda conheceu de verdade
Tesão é não te querer
Tesão é berrar com voracidade
Tesão é ser livre, falar besteira, o que vier na cabeça, não justificar
Tesão é fazer coisas estranhas
Tesão é uma voz cansada e usada
Tesão é ver filmes do Lars Von Trier
Tesão é um gordo charmoso, um coroa cheio de tiques nervosos, um magrelo cabeludo, um músico jovem e obcecado pelo estudo carente de mulheres
Tesão é um pé másculo cheio de ossos
Tesão é ver beleza em excesso e descobrir a feiura
Tesão é ver o feio e querer possuí-lo
Tesão é poder dizer tudo isso e muito mais
Tesão é se possuir, estar dentro de si mesmo até desaparecer.


26/07/2014

domingo, 6 de julho de 2014

Cosmos

Aqui estou eu de novo só.
Eu e minhas bagagens.
Minha bagagem de mão, coisas sem função: não me trazem você.
Minhas bagagens de conhecimento, não tão inúteis porque me acalmam.
Mas não me trazem você.
Eu, minha mala, meu agasalho, e a carteira; todos nesse imenso cosmo.
Perdidos na multidão, que está perdida nesse mundo, perdido no universo, imensurável!
Mas pensando assim, o que é o mundo perto do meu sentimento?
Pequeno. Breve. Minúsculo. Ridículo. Quark!
Vá, vá para onde quiser. Estará perto.
Por ir, pode vir, pode voar, viajar, conhecer, viver, estudar, trabalhar.
Essas coisas não são nada a não ser pó.
Será meu vizinho.
Leve o tempo que quiser, pois este não existe.
Se quiser tentar, pode ir para M66 ou qualquer outra galáxia,
Pode ir, assim como a Lua se afastou...
Continuará perto!
Querendo ou não, é impossível ultrapassar 1 milésimo de segundo longe.
Pode tentar ir para um lugar que a luz não alcance, por um buraco de minhoca, com a facilidade de abrir um portal onde bem quiser!
Mas esse direito não nos foi dado.
Nada nos amarra. Nascemos livres. E assim somos nós. Todos nós.
Cada um é uma célula, como se as mitocôndrias fossem Sóis, fornecendo energia.
Mas a vitalidade, meu caro... Ah! Esta é única de cada um!
Cada um por si.

E agora te pergunto: com simples aninhos e pequenos quilômetros nessas meras medidas terrestres, você acha que eu desistiria de um sentimento tão cósmico?